Pages

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Por que só compro em brechós?

     Esse era um tema do qual eu queria muito abordar por aqui. Brechós. Isso mesmo, os brechós. Eu tenho o hábito de comprar muitas das minhas roupas em brechós aqui em Rio Preto, e não tenho vergonha nenhuma em assumir isso. Até porque, eu sei bem os meus motivos de eu frequentá-los no lugar de grandes lojas de marcas.


     A indústria da moda hoje está pautada por uma ideologia: a fast-fashion. Não tenho muita propriedade para falar sobre o tema, porém, pesquisando um pouco descobrimos relatos de marcas que usam mão de obra escrava para produção de suas roupas, existem relatos de marcas que nas mudanças de coleções, jogam fora e queimam as peças antigas. E claro, hoje as roupas são feitas para não terem duração. Recentemente, uma marca independente brasileira foi denunciada por gordofobia, assédio moral e muitas outras acusações graves. Eu sinceramente, não quero usar peças que foram feitas por pessoas que foram humilhadas, crianças amarradas ou qualquer coisa do tipo, e você?
     Aliás, você já reparou que quando chegamos em uma loja, o manequim está cercado de objetos da que possuem a mesma cor do modelo de roupa que está usando? Pois é, isso é uma estratégia de marketing para criar um contexto para aquela roupa, um contexto que muitas vezes nem cabe à você ou ao seu estilo de vida, valores e ideologias.

     Quando chego em um brechó, as roupas estão fora de contexto, espalhadas, e eu tenho o objetivo de criar uma história para aquela roupa. O que Pierre Bourdieu vai chamar de "moda como narrativa", ou seja, a roupa que eu estou usando está contando uma história, minha ou do contexto social e histórico, mas ela diz algo. Já as roupas das lojas, não. Elas mostram apenas o que as massas estão usando.

     Fora que, para mim, o mais emocionante é o garimpo. É encontrar peças que tenham o meu estilo, em ótimo estado e que possuem uma história e um preço acessível. Poder encontrar tênis, sapatos, mochilas, chapéus, utensílios... E o melhor, se elas estão ali, é porque elas possuem capacidade para sobreviver durante o tempo. O que é ótimo! E essa "caçada" é realmente muito emocionante.

     A compra em brechós produz a slow-fashion, ou seja, uma moda mais devagar, sem criar mais de cinquenta e quatro estações por ano.
     É ecológico, sustentável, cultural, artístico, econômico e humano. Humanização da moda e do ser.


Referências:

Imagem Brechó 1: https://wp.ufpel.edu.br/empauta/2018/07/a-moda-presente-nos-brechos-em-pelotas/
Imagem Brechós 2: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/praticas-inovadoras-no-comercio-de-brecho,c90c21f9d7284510VgnVCM1000004c00210aRCRD
Notícia: Racismo, gordofobia e assédio moral: funcionários denunciam marca carioca: https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2019/05/20/racismo-gordofobia-e-assedio-moral-funcionarios-denunciam-marca-carioca.htm
Artigo: "A Moda como Prática Cultural em Pierre Bourdieu", escrito pela Maria da Graça Setton: http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistaiara/wp-content/uploads/2015/01/05_IARA_Setton_versao-final.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário