Eduardo Henrique de
Sousa e
Graduando em Pedagogia
no Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP
Núcleo de Atividades Acadêmicas
Complementares
Núcleo de Pedagogia
Resumo: A
proposta deste artigo é analisar e apresentar a maneira como os currículos dos
cursos de licenciatura em pedagogia e dentro de um panorama histórico explanar
a maneira como certas metodologias foram privilegiadas em detrimento de outras
dentro da área acadêmica, mostrando também como as diversas teorias da
educação, merecem seu devido espaço nos currículos através de referências
legais. Incluindo assim, a Pedagogia Waldorf, do filósofo e educador Rudolf
Steiner, que contempla o olhar humano e integral para todas especificidades
educacionais de cada ser, onde, instigado sob essa visão, foi-se realizado uma
pesquisa onde os projetos pedagógicos de cinquenta e sete instituições de
ensino superior foram analisados denotar se possuiam referância à Pedagogia
Waldorf, à antroposofia e ao seu criador, Rudolf Steiner.
Palavras-chave: Cosmovisão. Educação. Licenciatura. Antoposofia. Pedagogia. Waldorf.
É muito comum nos primeiros anos em um curso
de licenciatura, o aluno deparar-se com as disciplinas de psicologia,
filosofia, história e sociologia da educação, onde os primeiros contatos com os
precursores e precursoras da educação e suas teorias inicia-se. A expansão do
ensino superior, permitiu atrair para si grandes intelectos que dedicaram-se ao
progresso científico. Mas, relegou aos setores de ensino básico uma decadente
desqualificação, onde os conhecimentos produzidos não chegavam até os setores sociais
menos capacitados. Sobre isto, Moysés, (2001, p. 127) atenta: “É urgente que se
façam revisões nos programas das disciplinas pedagógicas.”
Os cursos de pedagogia e licenciaturas
entraram em um looping de repetição mecânica de teorias clássicas do desenvolvimento
humano, impedindo assim, a disseminação de novas fundamentações da educação. E
em um contexto pós-moderno, é natural que as visões sobre escola, educação e
desenvolvimento humano culturalmente tenham mudado.
Nas
últimas décadas, no entanto, a questão educacional como que desapareceu como
tema intelectual, transformando-se em assunto “meramente” técnico ou
administrativo. (SCHWARTZMAN, 1988)
Tomando por base essa premissa, a discussão
teórica propõe uma reflexão acerca dos dados qualitativos levantados na revisão
bibliográfica de Projetos Pedagógicos de Cursos de licenciatura em pedagogia de
cinquenta e sete instituições de ensino superior brasileiros, e busca
apresentar uma alternativa despretensiosa sobre o ensino de metodologias
alternativas, modernas e pós-modernas nos cursos de licenciaturas, e afunila-se
em uma teoria em especial, a Pedagogia Waldorf a partir da obra de seu autor
Rudolf Steiner.
A concepção de educação presente na Pedagogia
Waldorf, remonta a Alemanha de 1919, e mostra uma dimensão cosmológica,
integral e holística de sistema pedagógico e social alicerçada no conhecimento
humano da Antroposofia.
A Antroposofia transcende o sentido da
compreensão científica como é entendida hoje. Pode ser classificada como uma
Ciência Espiritual que une a ciência natural e a prática espiritual.
A Pedagogia Waldorf derivada da Antroposofia,
entende o desenvolvimento intrínseco de cada ser humano em seu período de vida,
denominado de setenio. O contato com a arte, a natureza e o respeito aos ritmos
naturais da vida, são proporcionados desde os primeiros anos de ensino.
Rejeitando fórmulas pedagógicas prontas, estáticas e fora da realidade que os
alunos estão inseridos.
Os
senhores já viram que nossa pedagogia não deve apoiar-se em princípios educativos
abstratos, em afirmações gerais como “Não se deve apresentar à criança coisa
alguma de fora, mas desenvolver sua individualidade”. Os Senhores sabem que
nossa arte pedagógica deve ser erigida sobre uma autêntica sintonização de
nossos sentimentos com a natureza infantil; que ela deve basear-se, em sentido
mais amplo, no conhecimento do ser humano em desenvolvimento (STEINER, 1997,
p.18).
A Pedagogia Waldorf pode ser uma alternativa
para os alunos que estão inseridos nos cursos de licenciaturas nas universidades,
tanto para sua prática, quanto para uma disseminação teórica de abordagens
modernas dentro da área. A UNESCO apontou a Pedagogia Waldorf como a abordagem
capaz de superar as problemáticas da educação, mostrando que seus fundamentos
podem ser efetivados em qualquer realidade cultural e forma de organização
social. Muitos licenciados sentem-se sem opções quando deparam com a realidade
da sala de aula e veem que muitos princípios teóricos não conseguem aplicar-se
em escolas tradicionais e positivistas.
Essa Pedagogia possui grande capacidade de
delineamento e adaptação, podendo contribuir enormemente nos programas de
formação de professores, visto que cada tendência possui suas características,
contextos históricos e sociais. Por isso, a implementação do ensino detalhado
de abordagens alternativas que possibilitem o enriquecimento da pluralidade no
ensino dentro do ensino superior e a aplicação prática na educação básica é tão
relevante.
I.
Um
retrato das licenciaturas
Nos primeiros anos nas licenciaturas, o
calouro ingressante é exposto à nomes de filósofos, sociólogos, cientistas,
médicos e psicólogos que influenciaram de maneira ou outra nas teorias da
educação, porém, muitas vezes, esse conhecimento é superficial e restrito
apenas as teorias estudadas pelo próprio professor universitário quando este
estava em ambiente acadêmico. Muitas vezes, essa explanação rasa não é cometida
por más intenções, é que realmente há uma recusa em aceitar e dar visibilidade
para metodologias alternativas, modernas e pós-modernas.
De maneira ostensiva, as tendências
pedagógicas estão ligadas com o contexto histórico em que estão inseridas,
Nos
anos 50 inicia-se a propagação de novas teorias educacionais originadas nos EUA
e rotuladas com a expressão “tecnicismo educacional”, que se intensifica nos
anos 70. (LIBÂNEO, 2005, P.48)
Nos anos 80, há a organização de movimento
pela revalorização da escola pública e alguns poucos educadores passam a
considerar o termo “moderno”. As diferentes concepções de educação como a
inatista, que considera como fator primordial as condições biológicas do ser,
com Pestalozzi. Dewey traz contribuições para a concepção pragmática, as
correntes ambientalistas de Durkheim e as interacionistas de Piaget, Wallon e
Vygotski. Todas essas correntes geraram derivadas, novas concepções,
filosofias, teorias e metodologias da educação.
É
possível conta-argumentar dizendo que há nos cursos de formação para o
magistério um estudo sistemático das teorias da aprendizagem. É verdade: há, em
muitos, uma parte do programa destinada à Psicologia da Aprendizagem. Mas o que
se estuda ali? Invariavelmente, os aspectos comportamentalistas do processo
ensino/aprendizagem. Algumas vezes também são incluídas as teorias
psicogenética e existencial-humanista (Jean Piaget e Carl Rogers,
respectivamente). Da primeira, retira-se, em geral, o estudo dos estágios
evolutivos. Da segunda, as ideias ligadas às relações interpessoais que ocorrem
na sala de aula. No entanto, algumas questões centrais ficam de fora. Por exemplo,
as formas superiores do pensamento, o papel da interação no processo
ensino/aprendizagem, a relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento etc.
(MOYSÉS, 2001, p. 118)
Alguns educadores, classificam como
pós-moderno todos os fenômenos contemporâneos que contribuem para a manutenção
da sociedade capitalista, outros como vanguardismo intelectual que procura
descaracterizar as teorias tradicionais. A multiplicidade de manifestações de
pensamentos e da cultura precisa ser configurada de modo que haja espaço para
um convívio harmonioso e progressista.
Essas definições clássicas da educação possuem
sua devida importância, mas não podem ser superestimadas, Paulo Freire (1979)
classifica como uma das características da Consciência Crítica: “Face ao novo,
não repele o velho por velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na
medida em que são válidos”, por isso, o educador-pesquisador convive
criticamente e de maneira equilibrada com teorias clássicas e modernas, sem
tornar-se fanático ou sectarista.
No Artigo 6º, inciso I, letras a e h, a Res
CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006, sobre os cursos de Pedagogia, é assegurado:
Art. 6º
A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a
autonomia pedagógica das instituições, constituir-se-á de:
I - um
núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a
multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da
literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como por meio de
reflexão e ações críticas, articulará:
a) aplicação de princípios, concepções e
critérios oriundos de diferentes áreas do conhecimento, com pertinência ao
campo da Pedagogia, que contribuam para o desenvolvimento das pessoas, das
organizações e da sociedade;
[...]
h) estudo
da Didática, de teorias e metodologias pedagógicas, de processos de organização
do trabalho docente
II.
A
Pedagogia Waldorf nos cursos de licenciatura em pedagogia
A numerosidade de
concepções e ciências da educação são asseguradas pela Res CNE/CP Nº1, de 15 de
maio de 2006, porém a descaracterização do ensino da teoria pedagógica nos
cursos de licenciatura e, principalmente, Pedagogia, proporcionam uma
desfiguração das ciências da educação e impede a realização e avanço de
pesquisas específicas para esse campo.
É possível que o próprio conceito de “professor”,
como aquela pessoa formada pelas licenciaturas universitárias, cursos de
pedagogia e escolas normais, ja esteja se tornando tão obsoleto quanto o da
professorinha normalista que ainda povoa muitas de nossas fantasias
pedagógicas. Artificialidade dos cursos de pedagogia que são hoje requeridos
pelos cursos de licenciatura, tanto quanto a falência dos antigos cursos
normais, são evidências claras disto. (SCHWARTZMAN, 1988).
Apesar da
pluralidade de concepções ser garantida por lei, a realidade encontrada
demonstra divergências. A numerosidade das escolas Waldorf não pode ser
ignorada, o Brasil está em oitavo lugar entre os 60 países onde existem escolas
Waldorf, empatado com o Reino Unido (segundo país atingido pelo movimento, e
bem à frente da própria Áustia, país natal de Rudolf Steiner (RICKLI, 2009).
Foi-se realizada a revisão bibliográfica dos Projetos Pedagógicos e ementas dos
Cursos de licenciatura em pedagogia de cinquenta e seis IES no Brasil, e foram
divididas em regiões, onde consta-se que:
Na Região Sul, apenas uma instituição privada oferece o curso de pós-graduação lato sensu em: “Pedagogia de Rudolf Steiner: Uma Educação para a Liberdade”. Já as IES que não possuem a PW em seu PPC, são nove públicas e três são privadas.
Na Região Sudeste, apenas uma universidade pública possui a Pedagogia Waldorf em seu Projeto Pedagógico do curso de licenciatura em Pedagogia. Em contrapartida, nove universidades públicas e quatro instituições privadas não citam a Pedagogia Waldorf em seu PPC.
Na Região Centro-Oeste, nenhuma instituição possui a PW em seu PPC, também, seis universidades públicas e uma privada não possuem a PW em seu PPC.
Na Região Nordeste, uma universidade pública possui a PW em seu PPC do curso de licenciatura em Pedagogia, outra instituição estadual possui o curso de pós-graduação lato sensu em “Arte da Educação na Pedagogia Waldorf. Em outra instituição pública, o curso de bacharelado em Humanidades, na disciplina de Arte-Educação, cita o autor antroposófico Rudolf Lanz na bibliografia básica da disciplina com a obra A Pedagogia Waldorf (Antroposófica, 1998).
Na Região Norte, uma
universidade federal possui a PW em seu PPC, mas quatro instituições públicas e
duas privadas, não possuem a PW em seu PPC.
III.
As concepções modernas de educação e seus
contextos sócio-históricos: novas possibilidades
O paradigma da
complexidade humana, leva o ser humano para uma sociedade em rede, de relações
horizontais e ressignificação do sentido de educar. O conceito de Paidéia, na
Grécia Antiga produz o início da construção dos pilares da educação integral,
que une o corpo e a mente.
A partir do século
XIX, após a Revolução Industrial, a escola adquire um aspecto mecânico, a
escola pública é defendida não como um direito social mas sim como uma maneira
de produção de mão de obra qualificada, principalmente após as influências de
Henry Ford e Frederick Taylor daí o interesse pelo ensino técnico e pela
expansão das disciplinas científicas. Enfatiza-se a relação entre educação e
bem-estar social, estabilidade, progresso e capacidade de transformação. O ser
humano seriado, ou fragmentado, inicia-se, e o conceito de educação integral
deixa de ter espaço.
No século XX, a
educação na Europa consolida-se por dar início aos estudos científicos da
criança, com predominância de testes das funções psicológicas, novos
profissionais unem-se no movimento da orientação educacional, como médicos e
sanitaristas. Após a Primeira Guerra Mundial, houve um crescente número de
orfãos e instituições ocupavam-se da educação, Ovídio Decroly, médico belga
preocupou-se com o intelecto e o trabalho com atividades diversificadas para
crianças com necessidades especiais, sempre defendendo a observação constante
de cada aluno, Decroly preocupava-se com o desenvolvimento da criança em três
eixos: observação, associação e expressão. Maria Montessori, na Itália,
desenvolveu sua metodologia em uma clínica psiquiátrica da Universidade de
Roma, onde propunha uma pedagogia integrada com a ciência sobre a criança e ao
mesmo tempo em que opunhava-se a concepções que considerava materialista. A
criança desenvolve-se em suas funções diárias, ao educador caberia uma atitude
discreta de preparação do ambiente e de observações das iniciativas
heterogêneas em sala. Montessori teve como fundamental item em seu trabalho, a
elaboração de materiais adequados à exploração sensorial pelas crianças e
específicos ao alcance de cada objetivo educacional e para isso, criou
instrumentos especialmente elaborados para educação motora ligados sobretudo à
tarefa de cuidado pessoal e para a educação dos sentidos e das inteligências.
Já Freinet, França,
foi um dos educadores que defenderam que a educação que a escola dava às
crianças deveria extrapolar os limites da sala de aula e unir-se às
experiências por elas vividas em seu meio social, sendo um importante expoente
da Pedagogia Libertária. A pedagogia de
Freinet organiza-se ao redor de uma série de técnicas ou atividades, entre elas
o desenho livre, texto livre, o jornal escolar e o livro da vida e inclui ainda
as oficinas de trabalhos manuais, sendo a base para a criação da Escola
Summerhill, fundada em 1921 por Alexander Sutherland Neill.
Fora do eixo
europeu, em 1917, na Índia, o educador e filósofo Paramahansa Yogananda fundou
a primeira escola com o método How-To-Live, com a diretriz principal na
educação para a paz, os métodos educacionais combinam-se com o aprendizado da
ciência da Yoga e da vivência dos valores humanos, para o desenvolvimento integral
da criança nos âmbitos emocional, físico, mental e espiritual. A instituição,
que tem formato de uma associação sem fins lucrativos, tem base na alimentação
vegetariana e aplica os princípios da Yoga na arte de educar. Para essa
abordagem, são pilares as quatro dimensões do ser: ciência do corpo, engenharia
mental, artes sociais e ciência espiritual aplicada.
Na década de 50, pós
Segunda Guerra Mundial, nova preocupação com a situação social da infância e a
idéia da criança como ser dotado de direitos, tal destaque aparece expresso na
Declaração Universal dos Direitos da Criança. A expansão dos serviços de
educação infantil na Europa e nos Estado Unidos foi sendo influenciada cada vez
mais por teorias que apontavam o valor da estimulação precoce no desenvolvimento
a partir do nascimento, com destaque para a pediatra austríaca Emmi Pikler na
década de 70 na Hungria, onde durante mais de trinta anos, foi diretora de uma
instituição de acolhimento a crianças órfãs e abandonadas.
Criou o método
Pikler onde a relação de confiança que a criança estabelece com o adulto, a
livre expressão da criança, o afeto, autonomia e atenção principais em momentos
de higiene, cuidado e alimentação, pois esses momentos são privilegiados para o
desenvolvimento infantil.
Já a partir da
década de 70, foco principal está em estudar a relação de poder e de manutenção
da sociedade de classes através da educação, seu comprometimento ideológico com
a classe dominante, os fatores sócio-políticos e nas condições determinantes
para a educação, como economia e política, começam a ser discutidos a maneira
pela qual a estrutura sócio-econômica condiciona a educação, em 1974, Paulo
Freire lança a obra Pedagogia do Oprimido pela editora Paz & Terra, Freire
apesar de afirmar que não criou nenhum método, a Abordagem Sociocultural o tem
como um dos principais inspiradores.
Na noite de 23 de
julho 1993, o Brasil viu o assassinato de oito jovens no centro do Rio de
Janeiro, episódio que ficou conhecido como a Chacina da Candelária. Atrás desse
crime, a história da metodologia da Pedagogia Uerê-Mello é contada. Yvonne
Bezerra de Mello, artista plástica, fazia o acompanhamento de cerca de 250
meninos sem lar, na noite em que oito garotos foram assassinados, ela
testemunhou o crime. Yvonne fornecia alimento e educação para muitas dessas
crianças. Em 1966 viajou para a França para o seu doutorado na Sorbonne em
filologia e linguística, foi na Europa que começou a ver um modelo comum nas
casas dos seus conhecidos imigrantes: as crianças não aprendiam. Na África, observou problema era o mesmo, e
foi assim que desenvolveu o projeto de uma metodologia de aprendizado para
crianças em ambientes de conflito. De volta ao Brasil nos anos 80, Yvonne
resolveu colocar seus estudos em prática e alfabetizar crianças sem
escolaridade nas calçadas de Copacabana, Madureira, Meier e no centro do Rio. A
chacina da Candelária voltou a ser tema nos noticiários na tarde 12 de junho de
2000, quando Sandro Barbosa do Nascimento realizou o sequestro do ônibus da
linha 174. Sandro era um dos sobreviventes da Chacina, e também ex-aluno de
Yvonne, ao ser encurralado, o jovem gritava: “Chama a tia Yvonne”, mas ela
apenas soube que seu nome fora citado em 2002 quando assistiu ao documentário
“Ônibus 174” de José Padilha.
Mas Yvonne em 1998
já havia criado a escola Uerê no complexo da favela da Maré, onde desenvolveu o
seu método para o desenvolvimento de desbloqueio de potencialidades de
desenvolvimento e aprendizado de crianças que estão em situação de guerra e
concentradas em áreas de conflito, traumas psicológicos e dificuldades de
aprendizagem causadas por situações de vulnerabilidade social. O objetivo
central é reconstruir conexões cerebrais, muitas vezes interrompidas em
crianças traumatizadas.
Em 2009 a pedagogia
Uerê-Mello tornou-se política pública na rede de ensino do Município do Rio de
Janeiro, em zonas conflagradas da cidade, é reconhecida e adotada pela Unesco e
Unicef em diversos países na África que encontram-se em situação de conflitos
bélicos e crianças imigrantes que chegam até à Suíça e Alemanha.
IV.
A Escola Nova de apenas alguns
As experiências
educacionais ocorridas entre 1980 e 1930, receberam a nomeação de Escola Nova.
Ao fim do século XX, Jean Piaget perpetua-se ao levantar o rótulo
Construtivismo na década de 20.
Concomitantemente,
uma metodologia surgir como um fenômeno mundial: A Pedagogia Waldorf. Porém,
essa corrente educacional foi potencialmente ignorada e muitas vezes
violentamente atacada. Em 1994, Heiner Ullrich escreve para a revista Prospects
da UNESCO, um elogio grande elogio às escolas Waldorf, mesmo que seis anos
antes, tenha escrito críticas às ideias teóricas de Steiner, cedendo então à
dimensão quantitativa do crescimento das escolas Waldorf que entre os anos de
1971 e 1992 passará de 95 para 350 (613%).
Apesar
disso, no Brasil ainda são raras as menções à Pedagogia Waldorf nos cursos de
formações de professores e quase sempre sempre num tom de “nem vamos falar
dessa esquisitice” ou no máximo de “lá parece ter alguma coisa interessante,
mas o que é, é um mistério”. Jamais a vi mencionada em conexão com a Escola
Nova, como parece ter se tornado a regra na Europa. (RICKLI, 2009, p. 02)
A Pedagogia Waldorf
é veemente rejeitada pela comunidade acadêmica não pela sua grande expansão
numérica mas sim, pelo fato de Steiner apresentou a sua teoria onde muitos
cientistas aprazaram em denominá-la como algo “esotérico” e ‘ocultista”, onde
muitos alegarem ser apenas uma ciência com investigações espirituais. É claro
que tantos ataques, ocasionou-se um consenso onde a Antroposofia e a Pedagogia
Waldorf não possuem validade científica, apesar dos excelentes resultados
apresentados pelas escolas Waldorf (BARZ e RANDOLL, 2007).
Em 1921, na cidade
de Calais, o movimento da Escola Nova toma forma em uma conferência com o tema
A auto expressão criativa da criança. Surge daí, duas associações gêmeas, a New Education
Fellowship (NEF) na Inglaterra e a ligue Internationale pour l’Edcation nouvele
(LIEN) na França. Muitos pensadores da época tiveram sua parcela de participação
nessas associações, A.S. Neil (fundador da Summerhill), Ovide Decroly, Maria
Montessori, Jean Piaget, John Dewey, Edouard Claparède, Roger Cousinet,
Celestin Freinet, Emile-Jacques Dalcroze, Franz Cisek, Alfred Adler e Carl
Gustav Jung.
A Pedagogia Waldorf
não esteve representada em nenhuma das conferências em Calai, apesar da
primeira Escola Waldorf ter sido fundada em Stuttgart, em 07 de setembro de
1919.
É apenas em 1974,
após a publicação de Heiner Ullrich, na revista Prospects que as escolas
Waldorf começam a ser admitidas na NEF e LIEN.
O
contraste com o incrível vigor que – independente de concordâncias ou
discordâncias com este ou aquele aspecto – temos que reconhecer no movimento
Waldorf atual talvez explique parte do misto de admiração e desconforto que
parece perpassar o artigo de Ullrich que venho comentando. Todo o seu tom é
mais ou menos como o de quem diz: “é, temos que admitir que esse mais esquisito
dos patinhos da Escola Nova era na verdade um cisne. Mas... que incômodo ter
agora que buscar meios de relacionar um cisne com a teoria geral dos patos que
já tínhamos desenvolvido!” (RICKLI, 2009, p. 08)
O movimento
teosófico europeu contribuiu para fundação da NEF, onde Rudolf Steiner foi
secretário-geral da seção alemã de outubro de 1902 até 1912, onde viu-se
forçado a desvincular do movimento por conta de certas divergências com a
liderança internacional de Annie Bensant. Em 1913, Steiner funda a Sociedade
Antroposófica e seis anos depois a Pedagogia Waldorf. Vale também ressaltar que
Maria Montessori, figura muito ligada à uma devoção profunda ao catolicismo, em
1939, durante a Segunda Guerra Mundial, esteve presente na Índia até 1947
realizando cursos à convite da Sociedade Teosófica, onde teve como seu lar a
sede Internacional da Sociedade Teosófica em Aydar durante aqueles anos.
É provável que a presença de um fundo
esotérico ou ocultista tenha causado o isolamento e distanciamento da Pedagogia
Waldorf, mesmo o movimento teosófico tendo sido o portador de conteúdos tão ou
mais “ocultistas” quanto os da Antroposofia, por que mesmo tendo tido grande
importância no movimento da Escola Nova não houve tal reconhecimento? O fato do
conteúdo ocultista influir na resistência à Pedagogia Waldorf é mostrado também nas ações, como no caso da
Justiça dos EUA e da Austrália que é contra o repasse de dinheiro público à
formação de professores Waldorf.
V.
Pedagogia Waldorf
Em um contexto
pós-primeira guerra, os países mais avançados culturalmente tiveram justamente
a sua cultura atacada, e com todos aqueles avanços da época, os países usaram
suas energias em elaborações novas armas. O questionamento que paira na Europa
nesse cenário é: “como a educação de perdeu?”. Maria Montessori, Jean Piaget e
Rudolf Steiner pensam a educação dessa época no contexto de destruição.
Rudolf Steiner teve
a possibilidade de estar próximo à tecnologia e modernidade de sua época, pois
seu pai trabalhava na estação ferroviária. Isto também o levou a várias
mudanças de residência. O pai de Steiner cuidou de sua educação formal na
infância, após um desentendimento com o professor. Desde criança já possuía um
espírito científico, pesquisador, onde estudava com entusiasmo o funcionamento
das coisas (GARCIA, 2014). Quando Steiner e sua família se mudaram para
Neudörf, ele foi para a escola. Durantesua vida, Steiner manteve o estímulo à
evolução de seu espírito científico. Segundo Santos (2007, apud GARCIA, 2014),
desde pequeno, diferente de outras pessoas, Steiner tinha percepções mais
amplas do mundo, que não se limitavam apenas as percepções capturadas pelos
órgãos sensoriais. As manifestações supra sensoriais, não-físicas, eram tão
vivas quanto as experiências físicas. Assim como a busca científica, desde
cedo, Steiner também procurava os conhecimentos espirituais. Seus pais não
tinham religião definida, porém ele se interessava por temas bíblicos. Durante
seu crescimento, Steiner sempre buscou uma ponte entre a espiritualidade e a
ciência, compreendendo as realidades espirituais baseando-se na ciência.
Steiner, buscou desde cedo a auto-educação, a consciência sobre seus
pensamentos e a direção de sua vida. Segundo Garcia (2014), o então jovem pensador,
frequentou o colégio científico com 14 anos e trabalhou por conta própria nos
estudos de “A crítica da razão pura” de Kant. Em 1891, com 23 anos, Rudolf
Steiner doutorou-se na Universidade de Rostock, na Alemanha e lança no mesmo
ano o seu primeiro livro, a sua própria tese de doutorado: Verdade e Ciência – Prelúdio para uma Filosofia da Liberdade.
Eis que na Alemanha
de 1919, na pequena cidade de Stuttgart, o senhor Emil Molt, o dono da fábrica
de cigarros local, Waldorf-Astoria, precisa que funde-se uma escola para os
filhos dos funcionários. Então à pedido do dono da fábrica, no dia sete de
fevereiro de 1919, a escola é fundada e a
Pedagogia Waldorf é criada sob os princípios científicos, teóricos, filosóficos
e antropológicos pensados pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925).
A Pedagogia Waldorf
provém da visão da Antroposofia de Rudolf Steiner, uma ciência espiritual que
busca ampliar o pensamento humano e fazê-lo enxergar-se como parte de um todo e
não um ser fragmentado, fazendo com que a educação dialogue com as primeiras
manifestações do pensar, do sentir e do querer do homem através da
história. Em sua vida Steiner
desenvolveu junto com a Pedagogia, a agricultura, economia, filosofia, arquitetura,
artes, terapias, medicina, entre outras áreas.
Garcia afirma (2014,
p.18), “‘ANTHROPOS’ significa Homem e ‘SOPHIA’ sabedoria ou o conhecimento da
ideia divina, que só pode ser observada com a alma”. A partir desta ciência,
Steiner pode observar de maneira completa a realidade do homem, considerando
vida e matéria. A prática Antroposófica está diretamente ligada ao
autodesenvolvimento, a autoeducação, que leva o Homem, ao livre pensar,
proporcionando a sua libertação. Esta ciência considera o homem como união de
matéria e espírito, considerando todos os aspectos da realidade humana.
Sendo assim, os alunos nas escolas Waldorf
aprendem à tricotar, produzir utensílios de madeira e metal, usam aquarelas
naturais, para que cada indivíduo entenda desde a mais tenra infância de onde a
humanidade iniciou o seu pensamento, a ciência e a cultura, para que eles
possam compreender as necessidades atuais e futuras do homem. Estes fundamentos
estão focados na questão da liberdade do ser humano. John Dewey, Maria
Montessori e muitos outros pensadores da educação possuem inspirações
antroposóficas, mas apenas Rudolf Steiner assume desenvolver o seu trabalho
baseado na ciência da Antroposofia.
O currículo Waldorf
baseia-se nas fases do desenvolvimento da criança, pensando não somente no
nascer mas também no antes do nascer e compreendendo a gestação da mãe. Dentro
da pedagogia waldorf, leva-se em consideração o desenvolvimento físico das
crianças para a definição e aplicação do currículo do ensino fundamental. Ou
seja, cada matéria é destinada a um determinado ano escolar respeitando um
currículo previamente pensado por estudiosos da antroposofia, vinculando-se a
uma necessidade da idade cronológica dos alunos. Por exemplo: no 7º ano do
ensino fundamental II, os alunos estudam sobre o corpo humano, justamente na
fase de mudanças em seu próprio corpo, podendo sanar suas próprias dúvidas. Na
escola Waldorf, a especificidade das matérias faz com que o ensino seja
dividido em aula principal e aula de matéria, ministrado de forma didática em
épocas (aula principal) e em aulas avulsas (aula de matéria). Constituem-se
conteúdos típicos de aula principal: língua materna – português –, matemática,
geografia, história, biologia (zoologia, botânica, antropologia), física,
química e história da arte; e de aula de matéria: educação física, trabalhos
manuais, música, línguas estrangeiras (inglês e alemão), artes e euritmia.
A criatividade da
criança possui grande importância, afinal, é ela o propursor do pensamento
livre, que a acompanhará até o final de sua vida. Por isso, o professor
Waldorf, deve respeitar a autonomia de cada indivíduo, a fim de promover o
desenvolvimento integral. Busca-se induzir os alunos a uma autoeducação, que
forme seres humanos livres e criativos, mesmo diante de uma realidade social
materialista e massificadora. O espírito livre é visto como a forma mais
verdadeira da expressão humana, quando chega-se a essa erudição do pensar, ao
ter-se a intuição consciente, ele expressa uma forma superior da natureza.
Conforme Rudolf Lanz
(1998, p.39) “Há, portanto, quatro nascimentos: o do corpo físico ao nascer, o
do corpo etérico aos sete anos (escolaridade), o do corpo astral aos catorze
anos (puberdade) e o do eu aos 21 anos (maturidade)”. O desenvolvimento dos
quatro membros, citados pela Antroposofia, correspondem ao processo de
amadurecimento. Rudolf Steiner acreditava ser preciso que o ser humano
desenvolvesse a autoeducação, para após os 21 anos, ter controle sobre seus
pensamentos e sentimentos, sendo assim capaz de tomar as decisões de sua vida.
Rudolf Steiner divide o desenvolvimento humano em períodos de aproximadamente
sete anos, ao qual ele domina de Setênios. Do ponto de vista biológico, os três
períodos de sete anos poderiam ser caracterizados da seguinte maneira: 1. O
período entre o nascimento e a troca dos dentes. 2. O período entre a troca dos
dentes e a puberdade. 3. O período entre a puberdade e a maioridade. Além do
desenvolvimento pedagógico, a Antroposofia estuda a antropologia humana e nesta
filosofia os homens são quadrimembrados em: físico, etérico, astral e Eu.
Na educação
infantil, há a produção de um ambiente que assemelha-se muito com um ambiente
domiciliar, onde a professora e professor utilizam aventais e roupas que
produzem um arquétipo de mãe ou pai, criando assim, a denominada “autoridade
amada”, para promover a segurança da
criança para o convívio com a natureza, E onde há fantasia e criatividade, além
de um trabalho de preparação para a aprendizagem. No ensino fundamental, o
professor trabalha os assuntos que devem ser propiciados a vivência dos alunos
através de uma arte de educar.
[...]
os professores são a alma viva de uma escola Waldorf. Se deixam de crescer e de
se desenvolver, a escola para e definha. (LANZ, 1998, p. 118)
No ensino médio o
ensino assume realmente um caráter científico. A escola intenciona desenvolver
o ser humano em suas necessidades, respeitando cada etapa, e oferecendo aquilo
que o aluno precisa. O ambiente da escola torna-se como uma comunidade onde as
decisões são tomadas coletivamente, onde esse ecossistema está interligado com
todas as instâncias.
Registros datam a
pedagogia Waldorf chegando ao Brasil em1956 com a Escola Waldorf Rudolf
Sterneir de São Paulo. Atualmente, segundo a FEWB (Federação das Escolas
Waldorf no Brasil), houve no país um crescimento de 200% nos últimos dez anos.
Atualmente, 91 escolas estão filiadas e 174 sendo acompanhadas, somando 265
iniciativas Waldorf em 21 estados brasileiros. Deste total, 15 são Escolas
Sociais ou Parcerias Público Privadas. Atendendo um total de 17.712 alunos e
cerca de 1.700 professores formados em um dos 20 Centros de formação em
Pedagogia Waldorf ao redor do Brasil.
Considerações
finais
O pensamento
científico pode ser ampliado para além da ciência material, incorporando em si
as fenomenologias humanas da ciência espiritual, onde há a compreensão do todo
(Sacred Unity). A cosmovisão do homem
prove um olhar mais verdadeiro e total para dentro e fora de cada indivíduo. O
homem carrega dentro de si toda a humanidade, que refletem nas suas percepções
visuais, sociais, emocionais, supra-sensoriais, etc.
O que
distingue a Pedagogia Waldorf de outras teorias pedagógicas é o fato de ela se
basear numa observação íntima do ‘ser criança’ e das condições necessárias ao
desenvolvimento infantil. Sem esse conhecimento, o próprio conteúdo da
Pedagogia Waldorf não pode ser compreendido. Porém, mesmo esse conhecimento
careceria de base se não fosse situado no contexto mais amplo e mais complexo
da cosmovisão que constitui, de certa forma, seu envoltório espiritual. Trata-se
da Antroposofia, ciência espiritual criada no início do século XX por Rudolf
Steiner. (LANZ, 1998, p. 11)
O presente trabalho
busca refletir acerca das teorias da educação que são trabalhadas nos cursos de
licenciatura em pedagogia, promovendo um novo caminho para a abertura da
entrada de novas teorias, pensadores e ciências educacionais. Em específico
aqui, a Pedagogia Waldorf.
No total, cinquenta
e sete universidades foram consultadas, pesquisadas e averiguadas, onde apenas
três cursos de licenciatura em pedagogia de IES públicas citam a Pedagogia
Waldorf em seus projetos políticos pedagógicos, onde dentre essas três, duas
são federais e uma estadual. Outros cursos que foram encontrados durante o
período da pesquisa e foram acrescentados nos dados, é o caso isolado dos três
cursos que citam a PW, sendo duas pós-graduações lato-sensu, uma em uma IES
privada na Região Sul, “Pedagogia de Rudolf Steiner: Uma Educação para a
Liberdade”, na Região Nordeste, tem-se uma IES estadual que oferta a
especialização lato-sensu em “Arte da Educação na Pedagogia Waldorf”, e uma IES
federal, onde no curso de bacharelado em Humanidades, o PPC do curso na
disciplina Arte-Educação, cita como bibliografia básica, o autor antroposófico
Rudolf Lanz.
No final, observa-se
que as outras cinquenta e duas IES não citam a Pedagogia Waldorf ou qualquer
autor antroposófico. A democratização das teorias e concepções de educação são
asseguradas pela Res CNE/CP Nº1, de 15 de maio de 2006. Há a necessidade
urgente de uma reavaliação e um olhar mais atento acerca do cumprimento dessa
resolução para que os licenciados possam atuar em todas as vertentes e
metodologias existentes nas mais diversas escolas e realidades sociais de
maneira flexível, crítica e autônoma.
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